Se muita expectativa é criada durante o desenvolvimento de um projeto de arquitetura, o qual muitas vezes representa a materialização de um sonho profissional ou de um novo lar para uma família, e, se mesmo apesar de todo planejamento, inúmeros imprevistos e dores de cabeça podem ocorrer durante as fases de execução, após muitos orçamentos, cronogramas e atrasos, com a finalização da obra e ocupação do imóvel, costuma parecer que a jornada, finalmente, chegou ao fim.
No entanto, mesmo com os trabalhos aparentemente concluídos e a sensação de dever cumprido, é provável que arquitetos e clientes ainda precisem alinhar alguns pontos ou solucionar algumas questões que surjam pelo caminho. Mas então, diante desse cenário, quais são as responsabilidades do arquiteto após a ocupação do imóvel pelos proprietários?
Em primeiro lugar, uma comunicação bem alinhada, assertiva e formalizada é essencial para ambas as partes desde o início e uma boa relação entre arquiteto e cliente é essencial para o sucesso da empreitada, o que envolve uma colaboração mútua, respeitosa e transparente ao longo de todo o processo. Assim como em qualquer outra prestação de serviço, não existe uma receita de bolo pronta para um projeto arquitetônico, cada profissional trabalha de uma forma e o combinado não sai caro! Ambas as partes precisam estar cientes do funcionamento dos processos: antes, durante e depois da execução do projeto, para que as etapas fluam da melhor maneira possível e que os atritos sejam minimizados.
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Reality show de reforma: fato ou ficção?É fundamental que o cliente entenda exatamente o que é um projeto de arquitetura e de como funciona o processo até que ele seja concretizado, saiba o que ele está contratando (ou deixando de contratar) e que as expectativas, responsabilidades e serviços estejam discriminados e alinhados desde o início. A execução de um projeto inclui muitos outros serviços e atores variáveis, que vão além do trabalho do arquiteto e que também farão parte do escopo de trabalho, tendo suas obrigações e encargos específicos durante todas as etapas, sendo essencial que o cliente entenda essa diferenciação.
Após a entrega do imóvel, é importante que o proprietário esteja munido de todas as informações e documentações sobre ele, tanto no que diz respeito às especificações de projeto (o que inclui possíveis mudanças e alterações ao longo de sua execução), quanto às referências das demais empresas contratadas. Uma vez que é responsável pelo projeto arquitetônico, o arquiteto, mesmo que indique outras empresas especializadas como construtoras, marcenarias, lojas de móveis etc., não é responsável por todos esses serviços, seus prazos, produtos e possíveis falhas que possam vir a surgir com eles, durante ou após a conclusão dos trabalhos.
Problemas como trincas na estrutura ou infiltrações na parede devem ser informadas à equipe executora da obra, para que sejam investigadas e solucionadas o quanto antes. O ar condicionado quebrou? É importante verificar a garantia do equipamento e entrar em contato com a empresa responsável, para que seja feito o reparo ou a troca da peça. No entanto, questões referentes ao âmbito projetual, como códigos de construção, adequação à normas técnicas, assim como a especificação de certos materiais, são responsabilidades pertinentes ao profissional que o desenvolveu e possíveis problemas nesse sentido devem ser conversados e alinhados para que sejam resolvidos da melhor forma.
Num mundo e numa arquitetura cada vez mais inseridos e regidos pelas dinâmicas das redes sociais, pode até parecer que, uma vez que postadas as mídias produzidas de um projeto aparentemente finalizado, elas marcarão o fim e a conclusão de um processo projetual. Porém, muitas são as questões que ainda poderão surgir, nas mais variadas frentes, e é importante que o arquiteto esteja atento e aberto ao diálogo com o cliente, auxiliando no que for possível e entendendo sua adaptação ao novo espaço — feedbacks que também são importantes para o próprio amadurecimento do profissional. Arquitetura, afinal de contas, mais do que um cenário esteticamente bonito ainda é a arte de habitar, num eterno processo aberto, contínuo e intermitente de criar e construir espaços de usos e afetos, que melhoram o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.